domingo, 17 de dezembro de 2017

Introdução dos Sólidos: Baby-Led Weaning (BLW) - Porquê?

Comecei por explicar, aqui, o que é o Baby-Led Weaning (BLW), como se compara com o Método Tradicional (MT) de um modo geral e porque é que este método não representa um maior risco de engasgamento do que o MT.

Agora apresentarei o porquê, os motivos que me levaram a optar pelo BLW, bem como as suas vantagens em relação ao MT, e quando é que se devem iniciar os sólidos, mais concretamente quando é que se deve começar o Baby-Led Weaning. Quando acabei os "porquê" reparei que isto já estava demasiado extenso, o "quando" fica para o próximo (mas a intenção estava lá).

Volto a dizer:
Como sabem não é um método inventado por mim, o que escreverei acerca do mesmo será informação retirada dos livros da Gill Rapley e da Tracey Murkett, e que complementarei com o que observo na Carminho e as experiências que temos tido.
Será como que uma tradução do livro "Baby-Led Weaning: The Essential Guide to Introducing Solid Foods and Helping Your Baby to Grow Up a Happy and Confident Eater". Livro este que aconselho que comprem.
A Carminho a explorar um pedaço de Maçã (cozida)
















Porquê o Baby-Led Weaning? Quais as suas vantagens? (e, já agora, as desvantagens)

Vou escrever pela ordem em que me chamaram à atenção e que depois fui aprendendo.

1. Bebés que iniciam os sólidos com o BLW tornam-se menos esquisitos com a comida: Como este método torna o acto de comer num acto prazeroso e porque comem a comida como ela é desde o início. Não há necessidade de transição de texturas e de momentos - algo que é complicado para muitos Bebés. Eu sempre fui picuinhas a comer, ainda hoje tenho automatismos parvos, embora tenha aprendido a comer de tudo, isso só aconteceu muito mais tarde, já nos 20 e muitos. Não quero que a minha filha seja como eu;

2. Não há guerras à hora das refeições: Não há pressão para que os Bebés comam - é no seu tempo -, logo, as refeições não se tornam num inferno para Bebés e Pais e podem, todos juntos, desfrutar deste momento familiar. Eu bem me lembro como este momento era um tormento para mim, até bem tarde. Passava horas à mesa, já sozinha, era mandada para a cozinha. Era uma luta de vontades entre mim e os outros. Não era fixe;

3. Não há necessidade para jogos ou truques: No BLW, o Bebé come o que quer e pára quando quer - não são decisões dos Pais. Portanto, não é preciso "enganar" ou distrair o Bebé para que coma o que ele não quer comer - nada de "olha, o avião!". Mais tarde, também não será necessário fazer formas engraçadas com a comida ou esconder vegetais noutras comidas;

4. É um momento prazeroso: Como o próprio Bebé é parte activa no processo e como é ele que controla o que comer, quanto comer e o tempo que demora, a refeição torna-se num momento de prazer. Os Bebés esperam por este momento que adoram, apreciam descobrir novos alimentos e gostam de fazer as coisas por eles mesmos. A Carminho, mal percebe que estamos a preparar o "cenário" fica toda contente: abana os pés, procura logo pela comida, "grita" sonzinhos de satisfação e, literalmente, atira o corpo na direcção da cadeira;

5. Cria-se uma atitude positiva em relação à comida: Muitas perturbações da alimentação das crianças iniciam-se bem cedo. Se as primeiras experiências do Bebé com a comida forem saudáveis e felizes, problemas como recusa de alimentos ou fobias alimentares tornam-se menos comuns. Na primária tive uma má experiência com o alho-francês. Uma das sopas era um caldo de alho francês, com pedaços do mesmo a boiar. Eu não gostava daquilo, cuspia-me toda, "vomitava" para o prato e obrigavam-me a comer na mesma. Uma coisa vos garanto: se me cheira a alho-francês eu não vou comer. Sei que é um alimento super saudável, mas nem pensar. Se estiver numa empada de pato ainda escapa, mas mesmo assim pedaços maiores são postos de parte e não me interessa se estou num restaurante fino ou se quem fez o prato fica ofendido: não dá!;

6. É natural: Os Bebés estão "programados" para experimentar e explorar - é como aprendem! Com este método, permite-se que o Bebé explore a comida ao seu ritmo e que siga os seus instintos para comer quando estiver preparado - como qualquer outro Bebé do Reino Animal (e sim, somos animais);

7. Um momento de aprendizagem sobre comida: Com o BLW, os Bebés aprendem acerca do aspecto, do sabor, do odor, da textura dos alimentos e de como se conjugam diferentes sabores;

8. Um momento de aprendizagem sobre o mundo: Tal como com os outros animais, um Bebé não está, simplesmente, a brincar - está sempre a aprender, a descobrir. Aprendem acerca de conceitos como "mais" e "menos", tamanho, forma, peso e textura. Aprendem, ainda, como pegar em algo mole sem o esmagar ou em algo escorregadio sem o deixar cair. Nesse momento, todos os seus sentidos estão envolvidos e aprendem como relacionar todas estas coisas, para um melhor entendimento do mundo que os rodeia;

9. Um momento de aprendizagem sobre como comer com segurança: Os Bebés aprendem sobre o que é mastigável e o que não é. A relação entre o sentir físico e o sentir mental é algo que só pode ser aprendido com a experiência. Quando o Bebé pega num pedaço de comida com a mão e o coloca dentro da boca isto ajuda-o a avaliar a facilidade com que diferentes tamanhos de pedaços se mastigam e movimentam com a língua. Isto é importante para que aprenda a evitar pedaços que são demasiado grandes para colocar na boca. Aprender como lidar com diferentes texturas também poderá diminuir as probabilidades de engasgamento;

10. Experimentar com diferentes texturas e aprender a mastigar: Com o BLW há uma experimentação de diferentes formas e texturas dos alimentos desde o início, estes não são reduzidos a uma colher de papa ou puré. Têm, ainda, a possibilidade de praticar a mastigação e a movimentação das coisas dentro das suas bocas, tornando-se mais experientes a lidar com a comida mais rapidamente do que os outros bebés. Para além de ser bom para a alimentação, aprender a mastigar eficazmente é também bom para a digestão e para o desenvolvimento da linguagem. Lidar com um leque variado de alimentos não só torna a refeição mais interessante, como torna mais provável que os Bebés ingiram todos os nutrientes de que necessitam;

11.  Experimentar a comida como ela é: Como adultos, esquecemo-nos que grande parte do prazer de comer vem de experimentarmos texturas e sabores individuais. Este método permite que os Bebés sintam este prazer. Já imaginaram se todas as vossas refeições fossem reduzidas a sopa ou a puré ou a papas? Sempre a mesma consistência, mesmo que o sabor mudasse? Não era aborrecido à brava? Ou até uma tortura?;

12. Aprender a confiar na comida: Os Bebés que estão habituados a seguir os seus instintos, no que diz respeito à comida, raramente suspeitam dela. Permitir que rejeitem comida que sentem que não precisam ou que não lhes parece segura (seja qual for o motivo), significa que estarão mais dispostos a experimentar novos alimentos porque sabem que podem escolher se os comerão ou não. Ainda no outro dia, o Duarte gozava comigo porque me deu algo a provar e eu tive de o cheiras primeiro? Sempre que me metem um prato à frente, fico bastante tempo a observar, a cheirar, a analisar. A primeira garfada é sempre dada com alguma suspeição;

13. Desenvolver o seu potencial: Ao usarem os dedos para levarem a comida à boca, os Bebés estão a ter mais uma oportunidade para praticar a coordenação olho-mão. Pegar em alimentos de diferentes texturas e tamanhos, várias vezes ao dia, melhora a sua destreza. Mastigar (em vez de, simplesmente, engolir) ajuda a desenvolver os músculos que serão utilizados quando aprenderem a falar;

14. Confiar em si mesmo: Permitir que os Bebés façam as coisas também estimula a sua confiança neles mesmos. Confiança nas suas habilidades e decisões. Quando um Bebé pega em algo (eu tinha escrito "nalgo", mas o Duarte gozou comigo e tive de alterar) e o leva à boca recebe, naquele instante, uma recompensa instantânea, através de uma forma ou textura interessante. Isto ensina-o que é capaz de fazer boas coisas acontecerem, aumentando a sua confiança e auto-estima. À medida que vai aumentando a sua experiência com a comida e que vai descobrindo o que é comestível e o que não é, bem como o que esperar de cada tipo de comida, vai aprendendo a confiar nas suas decisões. Bebés confiantes tornam-se crianças confiantes e isto, muitas vezes, permite que sejam mais tranquilos em relação à sua necessidade de explorar o mundo e que tenham mais liberdade para o aprender;

15. Participar nas refeições em família: Isto é divertido para o Bebé e permite-lhe copiar o comportamento dos outros à mesa, acabando por, naturalmente, aprender a usar talheres e adoptar as maneiras da família. Assim, começam a aprender como os diferentes alimentos/pratos são comidos, como partilhar, como esperar pela sua vez, e como conversar. Participar nas refeições em família tem um impacto positivo nas relações familiares, aptidões sociais, desenvolvimento da linguagem e hábitos alimentares saudáveis. Como disse no artigo de ontem, ainda não estamos nesta fase, mas fiquei a pensar nisso e é ir fazendo experiências. Desde que ela não se distraia muito connosco...;

16. Controlar o apetite: Quando são os Bebés a decidir o que querem comer (dentro de uma variedade de alimentos nutritivos), a que ritmo, quando querem parar, permite-lhes que se alimentem de acordo com as suas necessidades e torna menos provável que comam demais, mais tarde;

17. Melhor nutrição: Alguns relatos sugerem que é menos provável que, mais tarde, escolham comidas menos saudáveis, sendo mais provável que sejam melhor alimentados. Isto porque se habituaram a copiar o que os pais fazem, a comer "comida de adulto" e porque são mais aventureiros em relação aos alimentos;

18. Saúde a longo prazo: Como o aleitamento (com leite materno) é reduzido de um modo muito gradual, os Bebés continuam a obter uma boa quantidade de leite. O leite materno proporciona protecção contra várias doenças e um balanço perfeito de nutrientes, para o Bebé e para a Mãe;

19. Refeições mais fáceis, menos complicadas: Assumindo que os Pais têm uma alimentação saudável, é fácil para eles adaptar as suas refeições ao Bebé. E, em vez de alimentar o Bebé em momentos diferentes ou enquanto a sua refeição fica fria, podem todos comer em simultâneo. Nos primeiros dias isto era impensável, porque eu sentia que tinha de ficar a observar cada movimento da Carminho, com medo que ela se engasgasse. À medida que nos vamos, todos, habituando a este processo há cada vez mais à vontade e permite que vá fazendo outras coisas enquanto ela come (desde que nunca saia de perto dela);

20. Comer fora é mais fácil: Como no ponto anterior, os pais podem comer tranquilamente enquanto o Bebé também o faz. Se não se levar um tupperware, a maioria dos restaurantes fará um pratinho de legumes cozidos, por exemplo (que terá menos sal do que uma sopa que já esteja pronta). O Bebé tem, então, oportunidade de aprender como funciona este espaço: que a comida é parece e cheira diferente, que tem de esperar por ela, etc. Isto também torna que idas espontâneas sejam possíveis e não representem um grande problema.

21. É mais barato: Permitir que o Bebé coma o mesmo do que o resto da família é mais barato do que comprar e preparar comida à parte. E é, certamente, muito mais barato do que comprar comida para Bebé já feita.

Claro que o Baby-Led Weaning também terá as suas desvantagens, que a meu ver são diminutas, considerando todas as vantagens que foram descritas.

1. A sujidade: Há um pouco de sujidade, é verdade. Há pedaços de comida a irem parar ao chão, aos pais e a todo o lado. Simplesmente, esta sujidade acontece assim que se começa e é por um período bastante curto. Quantas mais oportunidades têm para experimentar, mais vão aperfeiçoando a técnica de como pegar nos alimentos, logo, menos alimentos a voar. De qualquer modo, quando se alimentam os Bebés com a colher também há sujidade - quando eles começam com os "brrrrrr" é sopa ou puré por todo o lado. E, para mim, é mais fácil apanhar e limpar quando cai um pedaço de comida do que pingos de sopa ou puré.

2. As preocupações dos outros: Não é bem uma desvantagem, é mais uma "chatice". Muitas pessoas, até verem como funciona, são muito cépticas e muito assustadas. Não o conhecem, nem percebem como funciona. No artigo anterior contei-vos a postura dos meus Pais e do próprio Duarte ao início, mas a cada dia que passa estamos mais confiantes - ela incluída. É preciso é ter cuidado para que o stress dos outros não assuste o Bebé. Bem sabemos como eles são permeáveis às nossas emoções. Por isso, se decidirem seguir o BLW estejam à vontade para não o fazer quando estão com pessoas que não querem entender o método (por mais vezes que o vejam em acção). E dêem também liberdade a outros cuidadores para que não o façam quando têm de tomar conta do Bebé e não se sentem À vontade com o BLW. Não faz mal nenhum se fizerem algumas das refeições pelo método tradicional, à colher.


Porque consideram que o BLW é melhor do que o Método Tradicional?

Bem, antes de mais e como tudo o resto, cada Mãe/Pai sabe o que é melhor para si, para o seu filho e o que melhor se coaduna com o seu estilo de vida.
Não há nada de mal em alimentar o Bebé à colher se acharem que é o melhor, se não se confia no Baby-Led Weaning. O momento tem de ser um momento com o menos stress possível (como em tudo o que envolve Bebés).
A maioria de nós foi alimentada à colher e estamos bem, não estamos? Eu sou super picuinhas com a comida (já fui muito mais!), mas sou saudável e estou bem.

Com o Método Tradicional o Bebé não é parte integrante da refeição familiar, não come o mesmo do que os outros. Em vez disso, os pais insistem em meter-lhe uma papa na boca, com uma colher. A consistência é sempre a mesma, mas o sabor varia: às vezes é bom, outras vezes não.
Os Pais até podem deixar que o Bebé veja a comida, mas raramente deixam que lhe toque com outra coisa que não a boca. Às vezes parecem com pressa, outras vezes a comida nunca mais chega.
Quando o Bebé cospe (seja porque foi surpreendido, seja porque quer ver o que é), os Pais apressam-se a raspar a comida e metê-la outra vez dentro da boca.
Como os Bebés não aprenderam que a comida os saciará, poderão ficar frustrados quando têm fome porque o que querem é leite.

Desvantagens do Método Tradicional
1. A comida não precisa de ser mastigada: A capacidade de mastigação pode ser atrasada e o Bebé pode não aprender a lidar bem com grumos. A mastigação é importante para o desenvolvimento da fala, boa digestão e comer em segurança;

2. A comida dada à colher tende a ser sugada para o fundo da boca onde não pode ser movimentada tão facilmente (ou de modo seguro);

3. Em muitos Bebés o reflexo de vómito é despoletado quando comem, pelas primeiras vezes, comidas com grumos ou esmagadas porque a sugam para o fundo da boca. É mais difícil aprenderam a evitar o reflexo quando são alimentados por outros do que quando lhes é dada a oportunidade de se alimentarem sozinhos;

4. Com este método, o Bebé não controla nem a quantidade que come nem a velocidade a que come. Muitos acabam por comer mais rápido e a comer mais do que precisam. Se se insistir nisto, poder-se-á interferir com a capacidade de sentir quando está saciado e, mais tarde, a que coma demais;

5. Quando é dada demasiada comida "sólida", o apetite do Bebé pode diminuir e poderá receber menos nutrientes do que necessita. Antes de completarem 12 meses, o aleitamento é a principal e mais importante fonte de alimentação do Bebé;

6. Não é um método divertido para o Bebé. Os Bebés querem explorar a comida - é como aprendem. Se repararem, os Bebés não acham muita piada que se lhes faça coisas ou que se as faça por eles. Permitir que os Bebés se alimentem a eles mesmos, torna as refeições mais agradáveis e encoraja-os a confiar na comida - aumentando a probabilidade de apreciarem uma maior variedade de sabores e texturas.

Com o BLW os Bebés podem comer alimentos em forma de purés, não são apenas alimentos sólidos. Aliás, o problema não está no facto de se comerem alimentos mais "líquidos", mas em apenas se comerem nesse formato e em não se permitir que os Bebés tenham o controlo. Há Bebés que, desde cedo, aprendem a comer com uma colher que os Pais previamente encheram, outros aprendem a "mergulhar" as colheres e outros ainda conseguem lidar com esses alimentos usando as mãos.

A alimentação à colher utiliza-se quando se introduzem os sólidos aos 3 ou 4 meses, apesar de ainda não haver necessidade alimentar com essa idade. Não há outra opção sem ser a colher porque os Bebés não conseguem lidar com a comida nessa idade, ainda não têm as capacidades necessárias para o fazer em segurança. Isto criou  ideia de que as colheres e os purés eram essenciais à introdução dos sólidos.
Mesmo havendo, actualmente, estudos que indicam que não se devem iniciar os sólidos numa idade tão precoce, a maioria das pessoas ainda assume (acriticamente) que o início da alimentação complementar deve ser feita por meio de papas, purés e à colher. De acordo com a Gill Rapley e com a Tracey Murkett, não há qualquer investigação que apoie esta ideia. Simplesmente tornou-se prática comum: experimentada e confiada, mas não testada.




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