sábado, 16 de dezembro de 2017

Introdução dos Sólidos: Baby-Led Weaning (BLW) - O Que é e Medos Frequentes

Assim que a Carminho fez 6 meses começámos a introdução de alimentos sólidos.


Depois de muita leitura e de conversar com a Pediatra optámos por fazer um mix entre o Baby Led Weaning (BLW) e o Método Tradicional (MT), sendo que se trata mais de BLW do que MT.

De um modo muito sucinto, no BLW puro o bebé senta-se à mesa com os pais e come o que eles comem (desde que tenha sido preparado sem sal, não seja fast-food, etc. - falarei sobre isso mais à frente). Os alimentos são dados sem serem liquidificados ou transformados em puré, a não ser que seja esse o seu estado normal (como o iogurte, por exemplo). Devem ser apresentados num formato que o bebé consiga agarrar e com uma consistência que o bebé consiga "mastigar" com as gengivas; quer o formato quer a consistência serão apresentados de um modo seguro para o bebé, minimizando qualquer probabilidade de engasgamento. Alimentos moles são dados crus - por exemplo a banana, ou o abacate - e os alimentos rijos são cozidos ou assados (ou ambos!) - como a maçã ou os brócolos.
No BLW, o bebé senta-se à mesa com os pais (no máximo de refeições possíveis, ou aquelas que os pais entenderem) e é-lhe colocado à frente os alimentos para que os possa explorar (tocar, cheirar, levar à boca, etc.).
No MT, há uma introdução progressiva de alimentos (um alimento novo a cada 3-5 dias), de modo a despistar possíveis alergias; o bebé começa por fazer uma refeição, depois duas, três e por aí fora; e os alimentos são dados em forma de sopas ou purés, recorrendo-se a colheres (porque de outra forma o bebé não os conseguirá ingerir).
Em ambos os casos, a alimentação de sólidos antes do primeiro ano deverá ser uma alimentação complementar. Ou seja, o aleitamento (seja leite materno, seja fórmula) deverá ser a principal fonte de alimentação do bebé.

Quando digo que fizemos um mix entre BLW e MT, quero dizer que respeitamos o formato, consistência e frequência como no BLW, no entanto optámos por fazer a introdução de um novo alimento a cada 3 dias como no MT e as refeições não são, por enquanto, "em família" porque os alimentos são preparados só para ela. Isto porque há historial de alergias na família, porque para mim é mais fácil de gerir o que ela come e porque quando tentámos comer ao mesmo tempo ela distraía-se muito connosco e com o que era diferente do que ela tinha à frente. Como nesta fase há ainda muitos alimentos novos para introduzir (a cada 3 dias lá vem um ou dois alimentos novos, às vezes 3 - loucura! Wooo!) o prato dela é diferente do nosso, que tem muitos mais ingredientes e não é cozinhado de acordo com o que é mais seguro para ela. Daqui a uns meses, quando a introdução de novos alimentos já for mais espaçada, então começarei a cozinhar para a família inteira e eu e o pai teremos uma alimentação mais saudável.

Outra coisa importante é terem a confiança na vossa escolha e não terem medos. Aliás, medos temos sempre e acompanhar-nos-ão ao longo da vida, temos de ser capazes de os enfrentar.
O maior receio em relação ao BLW tem a ver com o engasgamento/asfixia e explico-vos aqui porque é que esse receio não deve ser maior em relação ao BLW do que em relação ao MT.
Mas têm de ter confiança, não podem ter o coração nas mãos sempre que alimentarem o vosso Bebé, se as outras pessoas ficam ou vos colocam em stress não alimentem o vosso Bebé em frente delas (mais à frente, tenho uma história para vos contar) e ambos os pais têm de concordar no método que utilizarem. Uma coisa vos garanto, há muito cepticismo e desconfiança, mas quando observam os bebés percebem que eles "sabem" o que estão a fazer.
Reparem, a falar com a "minha" Pediatra (que utilizou este método com o filho mais novo) disse-lhe "Doutora, eu estou confiante, mas apesar de ser socorrista preocupo-me com a eventualidade de algo acontecer". A resposta dela, médica? "Preocupamos todos!"

Apresentar-vos-ei uma série de informação sobre o BLW: O que é? Como se faz? Quando iniciar? Porquê escolher o BLW? Porque é que é melhor do que o MT? Quais as desvantagens? E os riscos?
Hoje abordo o que é o Baby-Led Weaning e os medos frequentes (e como lidar com eles).
Como sabem não é um método inventado por mim, o que escreverei acerca do mesmo será informação retirada dos livros da Gill Rapley e da Tracey Murkett, e que complementarei com o que observo na Carminho e as experiências que temos tido.
Será como que uma tradução do livro "Baby-Led Weaning: The Essential Guide to Introducing Solid Foods and Helping Your Baby to Grow Up a Happy and Confident Eater" (Baby Led Weaning: O Guia Essencial à Introdução de Alimentos Sólidos e de Ajuda a que o Bebé Cresça um Comedor Feliz e Confiante). Livro este que aconselho que comprem.



O Que É o Baby-Led Weaning?

"Weaning" significa a mudança gradual de uma alimentação apenas de leite (materno ou artificial) para uma alimentação sem qualquer leite (materno ou artificial) na sua alimentação. Esta mudança demora, pelo menos, 6 meses, mas pode levar anos (principalmente em bebés amamentados).
"Baby-Led" significa que é o bebé que conduz, que lidera, que toma as decisões neste processo de mudança, utilizando os seus instintos e capacidades adquiridas ao longo do mesmo.
Como já referi anteriormente, no início do processo esta alimentação é complementar.

O que é, na prática, o BLW?
  • O Bebé senta-se com a família durante as refeições e, quando estiver preparado, junta-se a ela num momento de sociabilização;
  • Encoraja-se o Bebé a explorar os alimentos assim que ele se demonstrar interessado, não interessando se os consegue comer (começa a pegar neles);
  • Os alimentos são oferecidos (esta palavra é importante, perceberão isso no "como") em pedaços de tamanho e forma adequados para que o Bebé consiga pegar neles, em vez de estarem em purés ou serem esmagados;
  • O Bebé alimenta-se a ele próprio desde o início, em vez de ser alimentado por outra pessoa;
  • O Bebé decide quanto quer comer e a que velocidade aumenta o leque de alimentos que aprecia;
  • O Bebé continua a ser alimentado com leite (materno ou artificial) e será ele a decidir quando está pronto para começar a reduzir o seu consumo (até deixar de o fazer).
Muitos pais lêem sobre o Baby-Led Weaning e pensam "oh, que novidade! Isso já eu fazia". Muitos pais, especialmente os que têm mais de 2 filhos, acabaram por fazer este método sem sequer repararem nisso. Com o primeiro filho tiveram todos os medos e fizeram o método tradicional como toda a gente lhes dizia para fazer (sim, eu digo "gente". "Gente" não é da polícia, "agente" é que é e "a gente" é diferente de "agente"), com o segundo relaxaram um bocado e quebraram algumas regras, quando chegaram aos terceiro filho já estavam tão ocupados com as crianças que "deixa-o lá explorar!". Basicamente, como em tudo o resto: detergentes próprios para bebés, chuchas caídas ao chão, etc... Amiúde, estes pais reparam que o primeiro filho é mais "picuinhas" a comer, o segundo é um pouco menos e o terceiro come melhor e é mais aventureiro. No entanto, não contam a ninguém com receio de que os achem maus pais ou preguiçosos.

No início dos 1900s, os bebés não comiam qualquer tipo de sólidos até chegarem aos 8 ou 9 meses; nos anos 60 começaram a dar-se sólidos aos 2 ou 3 meses; nos anos 90, a introdução dos sólidos começou a iniciar-se aos 4 meses - e assim se mantém, pelo menos aqui em Portugal. Estas mudanças acompanharam as mudanças na amamentação, não havia muita pesquisa fiável sobre o tema e não havia directrizes oficiais sobre a introdução dos sólidos.
Infelizmente, com a maioria das licenças de maternidade serem apenas até aos 6 meses, a introdução dos sólidos em Portugal é feita aos 4 meses, por necessidade dos pais e não necessidade do bebé. Talvez se consiga atrasar um bocadinho, quando as mães podem fazer o sacrifício financeiro de ficar em casa até aos 8 meses. Mas era tão importante conseguirmos que, para o bem-estar nutricional e afectivo dos bebés, a licença de maternidade fosse até ao primeiro ano de vida - idealmente até ao segundo.




Quais os Riscos do BLW? E se se engasga?

No início do BLW, tal como faria com um boneco ou objecto, quando o Bebé consegue agarrar em algo novo (que neste caso é a comida) é quase certo que o leve à boca para o explorar e testar. Quando consegue morder um bocado irá mastigá-lo com as gengivas, descobrindo como o sente e a que sabe. Principalmente, porque não consegue e, em parte, porque não o quer, é muito pouco provável que engula esse pedaço de comida. Ainda não adquiriu as capacidades necessárias para, propositadamente, levar a comida até ao fundo da boca e é muito difícil que tal aconteça acidentalmente - se estiver bem sentado e se não estiver distraído. O que normalmente acontece é que o pedaço caia da boca.
E isto é algo que está sempre a acontecer durante as primeiras "refeições". Mais do que ingerir os pedaços, estes caem da boca do Bebé, porque ainda não está na altura de ele os saber ingerir.
A Carminho, às vezes, bem tenta engoli-los e anda com bocados às voltas na boca, para depois os cuspir acidentalmente.

Os Bebés mais pequeninos têm o chamado "reflexo de extrusão" que actua de forma a empurrar para fora da boca tudo o que não seja a mama ou o biberão. Será um mecanismo de defesa que os impede de engolir ou inalar coisas sólidas e que começa a desaparecer, naturalmente, por volta dos quatro meses, independentemente do tipo de alimentação do Bebé.
A introdução precoce dos sólidos, com a colher, implica o tentar sobrepor-se a este reflexo - o que explica a sujidade que associamos a esta fase. Não é que o Bebé queira mandar a comida fora, simplesmente é um reflexo, não é uma escolha (tal como nós quando fechamos os olhos ao espirrar). Durante muito tempo achava-se que os bebés se habituavam à colher, mas o que se passa é apenas o reflexo de extrusão a desaparecer.

Os Bebés não aprendem a mastigar, simplesmente desenvolvem essa capacidade, pelo que não é necessário ensiná-los com a introdução de purés, progredindo para a comida esmagada e depois com pedaços.
Aprender a movimentar a comida dentro da boca é importante para a segurança do bebé, para a capacidade de comer e para o desenvolvimento da fala. Assim, o melhor modo de desenvolver estas aptidões é praticá-las com comidas e texturas diferentes. Além do mais, diferentes texturas (e não só o sabor) também proporcionam prazer e interesse no acto de comer. (Eu ia escrever "no comer", mas achei que poderia ser interpretada como não sabendo escrever) Quanto mais o Bebé experimenta diferentes texturas, maior a probabilidade de ser capaz de lidar com elas e maior a sua disponibilidade e vontade para experimentar novos alimentos.
Outra coisa a ter em conta é que, a partir de certa idade, não é necessária a existência de dentes para que sejam capazes de morder, roer ou mastigar, já têm força suficiente para o fazerem apenas com as gengivas. Os dentes serão úteis para, mais tarde, serem capazes de se "atirar" a alimentos mais rijos, como cenouras cruas. Para os alimentos cozidos, assados e "molinhos", não são necessários.

O medo mais comum é, sem dúvida, o medo de que o Bebé se engasgue com algum alimento. No entanto, o BLW não torna mais provável que isto aconteça do que a alimentação à colher (até pode ser o contrário). Isto, claro, desde que o Bebé esteja bem sentado e que seja ele a controlar a comida que leva à boca (e que a comida seja apresentada cozinhada e cortada forma correcta).
Este medo normalmente está associado ao observar-se o Bebé a ter o reflexo de vómito e confundi-lo com engasgamento. Estes dois mecanismos estão relacionados, mas não são a mesma coisa.

O vómito é um movimento que empurra a comida para longe das vias aéreas quando esta é muito grande para ser engolida. Se, num adulto, esta resposta é desencadeada perto do fundo da língua, nos Bebés de 6 meses é desencadeada muito mais à frente; ou seja, num bebé acontece muito mais facilmente do que num adulto e é desencadeada quando está bem mais longe das vias aéreas. Portanto, quando os Bebés de 6 ou 7 meses têm o reflexo de vómito com a comida não significa que esta esteja demasiado perto das vias respiratórias e muito raramente significa que estão em perigo de engasgamento. Independentemente do Método utilizado para introdução dos sólidos, à medida que o Bebé vai crescendo, o reflexo de vómito é despoletado cada vez mais atrás e o reflexo de vómito vai acontecendo cada vez menos. Estão a ver quando os médicos nos metem a espátula na boca e parece que vamos vomitar? Se pensarem nessa situação, vão-se lembrar que eles apenas nos pressionaram a parte detrás da língua, não houve nada a ir para a garganta e mesmo assim despoletou-se o reflexo de vómito.
Bebés que não tiveram a oportunidade de explorar a comida desde cedo podem perder a capacidade de usar este reflexo como forma de aprender a manter a comida longe das vias respiratórias. Há relatos que sugerem que Bebés alimentados a colher têm mais problemas, com o reflexo e com o engasgamento, quando começam a lidar com a comida (normalmente aos 8 meses) do que os Bebés que tiveram a oportunidade de a explorar mais cedo.
No entanto, para o reflexo de vómito funcionar eficazmente como mecanismo contra o engasgamento é imperativo que o Bebé esteja bem sentado (não pode estar recostado) - para que a comida seja empurrada para fora e não para dentro.

O engasgamento acontece quando a via aérea está bloqueada, completa ou parcialmente.
Quando o bloqueio é total (o que é raro), o Bebé não consegue tossir e é necessário que alguém desloque o que causa o bloqueio (recorrendo aos primeiros socorros).
Quando o bloqueio é parcial, o Bebé começa a tossir, automaticamente - o que costuma ser bastante eficaz. A Pediatra até nos disse "se estiver a tossir é porque está a ser capaz de lidar com isso, não é sinal para grandes alarmes".
O tossir e os ruídos que parecem tão alarmantes, são sinais de que o Bebé está a ser capaz de lidar com o bloqueio. Os Bebés, desde que não tenham qualquer patologia, têm um mecanismo da tosse muito eficiente e, desde que estejam sentados ou inclinados para a frente, o melhor é deixá-los lidar sozinhos com a situação.
No BLW, o que coloca o Bebé em perigo é alguém lhe colocar comida ou bebida na boca ou ele estar numa posição reclinada.

Quando um Bebé coloca um pedaço de comida na boca, ele está a controlar esse pedaço de comida. Se for capaz, mastiga-la-á. Se for capaz de a levar até ao fundo da garganta, engoli-la-á. Se não for capaz e, mais uma vez, desde que esteja bem sentado a comida cairá.
Permitir que um Bebé se alimente a si próprio significa que ele está no controlo e deixá-lo controlar ajuda a mantê-lo seguro.


Cá em casa, quem quis o BLW fui eu. Como em tudo, li, estudei, procurei e informei o Duarte. O Duarte (e já lhe disse isto mais do que uma vez) nunca se deu ao trabalho de ler uma linha sobre o que quer que seja, espera que eu o faça e depois lhe diga. Muitas vezes dá barraca, porque como é surdo (ou seja, responde-me os típicos "está bem, está bem") depois faz disparates ou lixa-me as rotinas ou inventa coisa. Portanto, o Duarte não estava informado sobre esta questão dos reflexos e ficava bastante apreensivo sempre que era altura da "refeição".
Poucos dias depois de iniciarmos o BLW fomos almoçar com o meu Pai e levámos uma caixinha com a comida dela. O meu Pai, apesar de médico, nunca ouviu falar no BLW, nem é pediatra. "Apenas" teve 4 filhos e a mais nova (eu) nasceu em 1984, quando a partir dos 3 meses as Mães tinham de voltar ao trabalho e as crianças iniciavam os alimentos sólidos. Habituado às maluquices das filhas (a minha irmã, na primeira gravidez, teve uma fase em que dizia que não ia vacinar o bebé; felizmente passou-lhe a parvoíce), quando nos viu a tirar alimentos sólidos, franziu o sobrolho em sinal de cepticismo, mas não disse nada.
A Carminho estava ao meu lado e à sua frente o Duarte, que a vigiava enquanto eu comia. Entretidíssima com os brócolos, começa a tossir. Eu, tranquila, olho para ela e fico a prestar atenção, o meu Pai entra em pânico, o Duarte fica stressado com a atitude do sogro e levanta-se de repente, indo na direcção da miúda "Ela tem um bocado de brócolos enorme na boca!". Obviamente, isto assustou-me e peguei na cara da miúda para lhe tirar o bocadão de brócolos. O que ela cuspiu foi um niquinho completamente esmagado que, se o reflexo de extrusão lhe permitisse (e dificilmente permitiria), teria engolido sem dificuldades. Logo de seguida, começa num pranto. Pranto este que foi, obviamente, precipitado pelo nosso comportamento.

Quanto mais habituada está a esta coisa de "comer", menos reflexos de vómito, menos tosse e é cada vez mais eficaz a pegar nos pedaços e levá-los à boca.
Quando ela percebe que está na hora da refeição fica felicíssima: seja porque vê os tupperwares, seja porque nos vê a pegar no bibe, seja pelo que for. Ela já reconhece a sua comida, sabe tão bem o que é para ela. Faz barulhinhos de satisfação enquanto come, balança os pés, sorri, suspira, fala com a comida. É um momento tão bom.
E não é só ela que está cada vez mais habituada, somos todos. O Pai já está mais relaxado e até a minha Mãe, que no início achou que sopa é que era, já acha mais piada à coisa.
É um método que tem de ser visto em acção para se perceber o quão natural é.


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